O Brasil pretende liderar o mercado global de bioinsumos com expertise e tecnologia tropicais.
Isso foi explicado em entrevista à EFE por Laudemir André Müller, gerente de Agronegócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), que indicou que aumentar a exportação de soluções verdes é uma estratégia fundamental para "consolidar a liderança do país" na agricultura sustentável.
Dada a rápida expansão dos bioinsumos, impulsionada por sua sustentabilidade e lucratividade, Müller observou que o Brasil "ocupa uma posição estratégica nesse movimento global" ao combinar biodiversidade única — a base para a descoberta de microrganismos com potencial agrícola — com pesquisa de ponta, uma indústria madura e agricultores inovadores.
No Brasil, o uso desses produtos naturais aumentou em média 22% nos últimos três anos — quatro vezes a média global —, atingindo 158,6 milhões de hectares tratados na safra 2024-2025, o que representa 26% da área cultivada.
Da mesma forma, o país, que registrou um crescimento de 35% no mercado interno de bioinsumos na última safra, hoje conta com mais de 170 empresas produtoras de bioinsumos e um portfólio de mais de 1.000 produtos.
"O diferencial do Brasil está no desenvolvimento de formulações adaptadas às condições climáticas extremas no campo, além do ambiente de estufa controlado, comum em mercados como o europeu", afirmou o economista.
Uma colheita de trigo na zona rural de Brasília, Brasil.
Além disso, a gigante sul-americana tem avançado em tecnologias de formulação sustentáveis, que “aumentam o desempenho dos produtos no campo e consolidam o país como um dos poucos capazes de oferecer bioinsumos competitivos e adequados às demandas de uma agricultura resiliente e produtiva”.
Segundo o especialista em agricultura e desenvolvimento, essas características tornam os bioinsumos brasileiros "competitivos em um contexto de mudanças climáticas e demanda por soluções sustentáveis".
Especialmente em culturas de grãos, cana-de-açúcar, algodão, café e frutas, esses produtos naturais têm sido fundamentais para aumentar a eficiência da produção, reduzir pragas e doenças e diminuir o uso de fertilizantes de nitrogênio.

Agricultor da Fazenda Recanto Machado, em Minas Gerais. EFE/Fernando Bizerra ARQUIVO
Cooperação e liderança
Nesse contexto, a ApexBrasil, que realiza diversas iniciativas para abrir novos mercados para empresas brasileiras, uniu-se à associação civil sem fins lucrativos Croplife Brasil em maio passado para lançar o "Projeto Bioinsumos do Brasil".
A iniciativa busca consolidar o país como um player global no fornecimento de soluções agrícolas baseadas na natureza, especialmente "bioinsumos de alta qualidade e tecnologicamente avançados".
As ações incluem a criação de uma marca internacional, o desenvolvimento de estudos de inteligência de mercado, a participação em feiras globais e missões técnicas para fortalecer a cooperação com países parceiros, além do alinhamento de políticas públicas e convergência regulatória.
Com um orçamento de quase US$ 1 milhão, o foco inicial do projeto é a América Latina, "devido à sua proximidade logística e clima e solo semelhantes".
Posteriormente, o foco será a União Europeia e a América do Norte, que são fundamentais para "dar visibilidade aos casos de sucesso brasileiros na produção sustentável", explicou à EFE Jorge Viana, presidente da ApexBrasil.

Um homem colhendo trigo na zona rural de Brasília, Brasil. EFE/André Borges
Ciência e inovação
O executivo destacou que a agricultura brasileira, embora seja uma das mais competitivas do mundo, prospera em um ambiente desafiador, com solos naturalmente pobres, altas temperaturas, chuvas cada vez mais imprevisíveis e intensa pressão de pragas e doenças.
"Esse cenário, que em muitos países seria um obstáculo, se tornou um estímulo à inovação no Brasil", acrescentou.
Nesse sentido, ele destacou o papel das universidades e centros de excelência nacionais, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que trabalham em colaboração com a indústria para desenvolver soluções inovadoras em áreas emergentes como bioinformática e biotecnologia aplicada à agricultura tropical.