Diretor do INIA Chile analisa alterações e distúrbios de pele em frutos de mirtilo

No dia 12 de março, o Centro de Convenções de Lima, no Peru, foi palco do XXXIV Seminário Internacional de Consultoria em Mirtilos, um evento de grande relevância para o setor agrícola que reuniu produtores e especialistas no cultivo de mirtilo. Um dos temas centrais do seminário foi a apresentação intitulada “Distúrbios e Alterações da Casca de Frutas”, proferida pelo renomado Engenheiro Agrônomo Dr. Bruno Defilippidiretor de Instituto de Pesquisa Agrícola (INIA) pertencente ao Ministério da Agricultura do Chile.
Durante sua apresentação, o Dr. Defilippi compartilhou seu conhecimento sobre os principais problemas que afetam a aparência e a qualidade externa das frutas, bem como estratégias eficazes para prevenir e controlar essas alterações.
A palestra despertou grande interesse entre os participantes, que apreciaram a oportunidade de aprender sobre técnicas e práticas inovadoras para garantir a qualidade da colheita em um mercado cada vez mais exigente. O seminário, organizado por Consultoria Blueberries, reafirmou sua posição como referência em atualização técnica e troca de experiências no setor de mirtilo.
Foi assim que o Dr. Defilippi se referiu ao desafio de produzir mirtilos de qualidade sem perder sua firmeza e frescor, pois, embora o mirtilo seja uma fruta apreciada em todo o mundo por seu sabor doce e suas propriedades antioxidantes, na opinião do pesquisador, por trás de sua popularidade esconde-se um desafio constante para os produtores: manter a qualidade e a firmeza durante o armazenamento e o transporte, onde o problema da perda de firmeza não afeta apenas a aceitação do consumidor, mas também impacta diretamente na lucratividade do negócio, afirmou o pesquisador.
Um inimigo silencioso: a epiderme fina
Um dos principais fatores que contribuem para a perda de firmeza, segundo o Dr. Defilippi, é a própria estrutura do mirtilo. A epiderme fina que caracteriza esta fruta não fornece uma barreira eficaz contra a perda de água. Isso faz com que a fruta desidrate rapidamente em condições de baixa umidade ou flutuações de temperatura, reduzindo sua vida útil.
O pesquisador também destacou que a falta de firmeza não gera problemas apenas no armazenamento, mas também na logística de distribuição. Nesse sentido, ele explicou que “um mirtilo que perde água rapidamente fica mole e suscetível a danos mecânicos, o que reduz drasticamente seu valor comercial”, ressaltando que manter a umidade relativa adequada durante o armazenamento e o transporte é fundamental para preservar a qualidade da fruta.
Nesse sentido, o pesquisador se referiu a estudos recentes que mostram variações de 3% a 5% na umidade, o que pode causar problemas de amolecimento, principalmente quando as frutas permanecem armazenadas por mais de três semanas. Essa perda de umidade, observou o Dr. Defillipi, nem sempre é aparente a olho nu, mas pode desencadear distúrbios de pele e colapso celular, afetando o valor comercial do produto.
Da mesma forma, a pesquisadora destacou o trabalho do professor Maria Alejandra Moya e sua equipe de pesquisadores da Universidade de Talca, no Chile, e Andrés Bello, que conduziram pesquisas significativas sobre como a perda de umidade varia dependendo da variedade da fruta e das características da casca, mostrando que certos tipos de casca, como a cutícula, desempenham um papel fundamental na redução da perda de água, destacando a importância de considerar esses fatores nos processos de armazenamento.
O estudo também abordou as diferenças entre variedades e sua relação com o controle de danos à pele. Um exemplo relevante é a formação de “raças” ou camadas secundárias na casca da fruta, fenômeno comum em frutas como maçãs e peras, mas que também pode ser observado em mirtilos quando apresentam feridas ou danos mecânicos.
Fatores fisiológicos e ambientais
Além da epiderme fina, a pesquisadora indicou que há outros fatores que influenciam na perda de qualidade dos mirtilos. Isso inclui problemas fisiológicos associados à variedade de frutas e ao manejo agronômico durante o cultivo. Estresse hídrico, temperaturas extremas e métodos inadequados de colheita podem comprometer a integridade da fruta antes do armazenamento.
Danos causados por insetos, condições climáticas adversas ou atrito durante o transporte podem desencadear a formação dessa casca secundária, afetando tanto a aparência quanto a resistência da fruta à desidratação. A formação dessa camada secundária representa uma resposta biológica a uma lesão, buscando proteger o interior do fruto da perda excessiva de umidade.
Soluções tecnológicas e projeção de futuro
O uso de tecnologias pós-colheita é essencial para minimizar esses problemas, segundo a pesquisadora. No entanto, ele explicou que nem todas as soluções estão disponíveis para os pequenos produtores, o que cria uma lacuna significativa na qualidade final do produto que chega aos mercados internacionais.
No entanto, o diretor do INIA destaca o trabalho que pesquisadores e agrônomos estão realizando em métodos inovadores para melhorar a firmeza e reduzir a perda de água. Uma das estratégias mais promissoras é o uso de revestimentos comestíveis que formam uma película protetora na superfície da fruta, reduzindo a transpiração e prolongando a vida útil. Além disso, implementar práticas agrícolas que promovam o desenvolvimento de epiderme mais resistente pode fazer a diferença. A escolha de variedades mais robustas e o manejo adequado da irrigação também são fatores-chave para enfrentar esse desafio.
Por fim, o pesquisador destacou que o setor enfrenta um desafio contínuo, mas com o esforço conjunto de pesquisadores, produtores e comerciantes, em sua visão, é possível oferecer ao mercado um mirtilo de alta qualidade e que atenda às expectativas dos consumidores mais exigentes.
Esperamos vê-lo nos próximos eventos de Consultoria de Mirtilos:
-XXXV Seminário Internacional de Frutas Vermelhas e Cerejas, Chile 10 de abril de 2025
-XXXVI Seminário Internacional de Berry, Guadalajara, México, 28 e 29 de maio
-XXXVII Seminário Internacional de Mirtilo Trujillo, Peru 9 e 10 de julho
-XXXVIII Seminário Internacional de Mirtilo Tânger, Marrocos 10 de setembro